O que é a síndrome de Sjögren ("síndrome seca")

Autor: Lisete Aires Silva, Joana Andrade Barros, Inês Pereira, Ana Catarina Silva

Última atualização: 2016/10/03

Palavras-chave: Síndrome de Sjögren; Síndrome seca; Olho seco; Boca seca



Resumo


A síndrome de Sjögren, também chamada de síndrome seca, é uma doença crónica inflamatória autoimune frequente, que afeta pessoas de qualquer raça e em qualquer idade, mas sobretudo mulheres na pós-menopausa.
A verdadeira causa ainda permanece desconhecida, embora esteja associada a um componente multifatorial, envolvendo tanto fatores ambientais, como genéticos. Os sintomas mais caraterísticos são a secura da boca e a secura dos olhos, podendo ocorrer outros menos específicos.
Atualmente, não tem cura e nenhuma terapia impede a sua progressão, visando o tratamento disponível apenas o alívio dos sintomas e a prevenção de eventuais complicações. No entanto, a sua evolução é lenta e benigna. As medidas de conforte para diminuir a secura das mucosas são úteis, melhorando a qualidade de vida.


O que é a síndrome de Sjögren


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A síndrome de Sjögren, ou síndrome seca, é uma doença crónica inflamatória autoimune, que afeta pessoas de qualquer raça e idade, atingindo, sobretudo, mulheres entre os 40 e os 50 anos de idade. Apesar de ser provavelmente a doença autoimune mais frequente, é pouco diagnosticada. A sua prevalência em Portugal é de cerca de 3%, com maior incidência em mulheres (9:1).
Os órgãos mais atingidos são as glândulas exócrinas, que segregam substâncias para o exterior (como as salivares, as lacrimais e as da pele), e os órgãos em comunicação com o exterior (como a vagina e as vias respiratórias), mas pode haver atingimento de outros órgãos.
Pode ser primária, quando surge isoladamente, ou secundária, quando se associa a outras doenças reumáticas sistémicas (como a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistémico, a polimiosite, a esclerodermia ou a tiroidite).

Como se manifesta?


  • Secura da boca
A secura da boca, chamada xerostomia, é a manifestação mais comum nesta doença e pode provocar dificuldade em mastigar ou engolir a comida, alterações do paladar, dor ou sensação de ardor na boca, e dificuldade em falar.
Esta situação também está presente noutras doenças crónicas como a diabetes, a hepatite C ou a depressão, ou ser provocada por medicamentos (como anticolinérgicos, antidepressivos, anti-hipertensores, anti-histamínicos, diuréticos ou neurolépticos) ou outros tratamentos médicos (como irradiação da cabeça e pescoço ou transplante de medula óssea).
  • Secura dos olhos
A inflamação das glândulas lacrimais diminui a produção de lágrimas e altera a sua constituição, originando a xeroftalmia (secura dos olhos). Poderá sentir secura, ardor, sensação de areia, comichão, vista cansada, maior sensibilidade à luz e visão turva.
  • Secura de outros órgãos
Além da boca e dos olhos, é frequente surgirem queixas de secura em outros locais como a pele, a vagina ou as vias respiratórias.
  • Manifestações sistémicas
São manifestações causadas pela extensão do processo inflamatório a estruturas não glandulares. Globalmente são pouco frequentes. Poderá ocorrer artrite (inflamação articular), miosite (inflamação dos músculos), tosse seca, dificuldade respiratória, diminuição ou alteração da sensibilidade (como formigueiro, dor em queimadura ou sensação de choques), paralisias locais, alterações do equilíbrio e da coordenação motora ou lesões da pele (secura, descamação, alterações da coloração, diminuição da sudorese, urticária, nódulos subcutâneos ou úlceras), dos nervos periféricos ou do rim.
  • Manifestações constitucionais
São manifestações gerais como fadiga, dor generalizada ou depressão, ou, mais raramente, febre, anemia, emagrecimento ou quebra do estado geral, comuns em situações de inflamação ou doença crónica, não sendo específicas desta síndrome.


Esta é uma doença relativamente difícil de diagnosticar, uma vez que as manifestações são pouco específicas, podendo ocorrer em pessoas com outras doenças reumáticas ou sob determinadas terapêuticas, e evoluem lentamente, levando a que a pessoa demore tempo a aperceber-se do seu problema.

Evolução


A síndrome de Sjögren evolui lentamente e de forma benigna, decorrendo, geralmente, 8 a 10 anos entre as primeiras manifestações e o diagnóstico. Apesar de afetar significativamente a qualidade de vida, não é uma doença fatal. Atualmente não tem tratamento específico eficaz. A vigilância médica regular é fundamental para monitorização da evolução e despiste precoce de manifestações sistémicas e complicações.

Conselhos úteis


  • Para a boca seca
    • Beba pequenas quantidades de água frequentemente para manter a boca húmida (grandes quantidades removem a camada protetora de saliva).
    • Evite bebidas ácidas (como refrigerantes ou bebidas energéticas) e cafeína.
    • Reduza a ingestão de doces, bebidas açucaradas ou alimentos ricos em hidratos de carbono (bolachas, pão, batata).
    • Lave os dentes após cada refeição, preferencialmente com pasta contendo flúor, use fio dentário diariamente e faça uma vigilância regular no dentista.
    • Use pastilhas ou rebuçados sem açúcar (ou à base de xilitol – adoçante), para aumentar a secreção salivar.
    • Use cremes ou batons hidratantes.
    • Utilize um humidificador em casa para aumentar a humidade ambiente, sobretudo de noite.
  • Para o olho seco
    • Evite ambientes com baixa humidade, fluxos de ar de ventoinhas ou ar condicionado, fumo ou poeiras.
    • Evite a utilização de maquilhagem em excesso.
    • Pestaneje frequentemente.
    • Mantenha os olhos lubrificados, mesmo nas alturas em que não tem sintomas.
    • Aplique compressas mornas nos olhos, para humedecer os tecidos secos e irritados e aumentar a secreção de substâncias oleosas pelas glândulas palpebrais.
    • Use óculos com proteção lateral ou de lente larga evitam a evaporação da lágrima, bloqueando o vento e aumentando a humidade em torno dos olhos.



Conclusão


O diagnóstico da síndrome de Sjögren deve ser feito o mais cedo possível, de modo a instituir as medidas disponíveis para melhorar a sua qualidade de vida. Há estudos atualmente em curso à procura de um tratamento mais dirigido, mas sem resultados até agora. Aconselhe-se com o seu médico assistente.


Referências recomendadas




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