Obstipação (prisão de ventre)

Autor: Rita Aguiar, Gustavo Santos

Última atualização: 2017/03/20

Palavras-chave: Obstipação intestinal, fibras na dieta, estilo de vida sedentário, defecação, hemorroidas



Resumo


A obstipação consiste numa alteração do funcionamento do intestino, em que a digestão se torna mais lenta, as fezes mais duras e a defecação mais difícil. É um problema muito comum, que frequentemente está associado a erros na alimentação, sedentarismo e comportamentos retentivos.
A identificação deste problema é geralmente simples e podem ser implementadas estratégias básicas para o superar, como por exemplo aumentando o teor de fibra e o consumo de água na alimentação e adotando um estilo de vida mais ativo.
A maior dos casos podem ser resolvidos sem recorrer aos cuidados de saúde, no entanto, há alguns “sinais de alarme” que devem fazer consultar o seu médico.




O que é a obstipação?


A frequência normal de dejeções é diferente entre cada pessoa, mas a maioria dos adultos apresenta um padrão que varia entre três vezes por dia e três vezes por semana.
Fala-se em obstipação ou prisão de ventre quando há uma dificuldade em defecar, o que se reflete numa frequência de dejeções menor do que a habitual e/ou na presença de fezes duras e difíceis de expelir ou que implicam um esforço excessivo para a sua expulsão. Esta situação pode provocar mal-estar e desconforto abdominal e/ou dor com a defecação.
É um problema muito comum que afeta pessoas de todas as idades, sendo mais frequente a partir dos 65 anos.

Porque é que tenho obstipação?


Na maioria dos casos a obstipação não é provocada por nenhuma doença do aparelho digestivo e é devida a alguns dos seguintes factores:

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  • Dieta pobre em fibras: o consumo diário de 25-30 gramas de fibras amolece as fezes e normaliza o trânsito intestinal (veja aqui a quantidade média de fibra contida em vários alimentos);
  • Baixo consumo de líquidos: os líquidos contribuem para hidratar as fezes e facilitar a sua expulsão;
  • Sedentarismo: o exercício físico aumenta os movimentos do intestino;
  • Medicação: alguns fármacos causam obstipação como efeito secundário, como é o caso de alguns medicamentos para a dor, antidepressivos, antiácidos, suplementos com ferro, etc;
  • Ignorar a vontade de defecar: adiar repetidamente a vontade de evacuar faz com que o reflexo normal que ajuda a eliminação das fezes diminua ou se perca;
  • Abuso de laxantes: usar frequentemente laxantes pode provocar habituação e fazer com que o intestino se torne dependente destes medicamentos;
  • Fatores relacionados com viagens ou alterações das rotinas: podem causar obstipação devido às alterações da alimentação, dos horários das refeições e/ou da limitação do acesso a uma casa de banho.


No entanto, em alguns casos, a obstipação pode ser causada por algumas doenças intestinais ou até por doenças que não têm origem direta neste órgão, como é o caso da diabetes, de algumas doenças da tiróide ou da medula espinhal.
Em algumas situações não se identifica a causa exata que provoca estes sintomas. O seu médico poderá ajudá-lo a identificar os fatores que podem estar a contribuir para a sua obstipação.

Sinais de alerta


Na presença de alguma destas situações deve consultar o seu médico:

  • Perda abundante de sangue com as fezes;
  • Aparecimento ou agravamento dos sintomas durante a noite;
  • Doenças intestinais na família:
    • Cancro colo-retal;
    • Doença de Crohn ou colite ulcerosa;
  • Sintomas intensos que não resolvem com o tratamento;
  • Alterações recentes no padrão habitual do funcionamento intestinal;
  • Perda de peso involuntária.



Complicações


Ocorrem quando as veias que fazem parte do ânus se dilatam e inflamam. Podem sentir-se como uma tumefacção no ânus e podem causar dor, hemorragia ou comichão.
  • Fissuras anais
São pequenas feridas localizadas no ânus que podem provocar dor intensa com a defecação, sangramento e prurido.
  • Prolapso retal
Ocorre quando uma parte do reto sai através do ânus.
  • Impactação fecal
Ocorre quando há uma obstrução do intestino por uma massa de fezes duras (fecaloma) que não se consegue expelir. Causa dor abdominal, vontade persistente de defecar, náuseas, vómitos, mal-estar, falta de apetite e pode necessitar tratamento urgente.

Tratamento


Existem várias estratégias que podem ser tentadas:

  • Aumentar a ingestão de líquidos: a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar recomenda uma ingestão mínima de 2,0 litros por dia para mulheres adultas e 2,5 litros por dia para homens adultos, em condições moderadas de actividade e de temperatura.
  • Aumentar o consumo de alimentos ricos em fibra: vegetais (couve, feijão, grão, ervilhas, brócolos, cenoura, etc.), fruta fresca, farelo de trigo, cereais integrais.
  • Evitar os alimentos processados, como as bolachas, que têm muita gordura e atrasam o esvaziamento dos intestinos.
  • Praticar atividade física regularmente, começando, por exemplo, com 20 a 30 minutos de caminhada rápida por dia.
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  • Evitar períodos de imobilização prolongada.
  • Não adiar a vontade de defecar.
  • Criar rotinas defecatórias, assegurando diariamente pelo menos um período de cerca de 10 minutos para ir à casa de banho. Uma sugestão é que o faça todas as manhãs, após o pequeno-almoço.
  • Colocar um banco para os pés quando se senta na sanita, simulando a posição de cócoras. Isto vai ajudar a que o músculo puborretal (um dos músculos responsável pela continência das fezes) relaxe e facilitar a evacuação.


Quando estas medidas não resultam, o seu médico poderá ajudá-lo sugerindo o melhor tratamento para si. Deve evitar o uso de laxantes e suplementos alimentares de venda livre sem avaliação médica pois o uso destes produtos pode causar habituação e associar-se ao aparecimento de efeitos secundários, sobretudo quando a sua utilização exceder 1 semana, se não houver melhoria dos sintomas ou mesmo se estes se agravarem, e nas crianças, nas grávidas e em mulheres a amamentar.

Conclusão


A obstipação deve-se principalmente a factores associados à alimentação e estilo de vida.
Aumente o consumo de fibra e água, pratique exercício e não adie as idas à casa de banho.

Referências recomendadas



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