Espondilite anquilosante

Autor: Sofia Rei, Ricardo Pinto, Raquel Andrade

Última atualização: 2022/03/28

Palavras-chave: dor nas costas, vértebras, bacia, inflamação



Resumo


A espondilite anquilosante é uma doença reumática crónica, de natureza inflamatória, que afeta predominantemente as articulações entre as vértebras e as articulações da bacia. É duas vezes mais comum no sexo masculino. A presença de lombalgia, dores nas coxas e glúteos, sobretudo de predomínio noturno que levam ao despertar, e rigidez, com evolução superior a 3 meses, são as principais manifestações clínicas da doença. A realização de exames imagiológicos e laboratoriais podem ser úteis no diagnóstico. O tratamento tem como principais objetivos o alívio da dor, a preservação da função articular, o atraso da destruição articular e, consequentemente, a melhoria da mobilidade e rigidez. Deverá combinar medidas farmacológicas e não farmacológicas. Apesar da doença apresentar, geralmente, um bom prognóstico, um diagnóstico e início de tratamento precoces contribuem para uma evolução favorável da doença.




Espondilite Anquilosante


A espondilite anquilosante é uma doença reumática crónica, de natureza inflamatória, que afeta predominantemente as articulações entre as vértebras (“espondilite” significa inflamação das articulações da coluna) e as articulações da bacia.
Quando a inflamação é persistente pode evoluir para fusão das articulações com consequente diminuição, ou mesmo ausência, da mobilidade articular e rigidez, quadro designado por anquilose. Aproximadamente 20 a 30% dos doentes com espondilite evoluem para anquilose.
Pode existir envolvimento de articulações periféricas, principalmente a nível dos membros inferiores, em 20 a 30% dos casos.
Muito raramente podem surgir manifestações extra-articulares da doença, como por exemplo, manifestações cardíacas, pulmonares, renais, entre outras.

Prevalência


É uma doença que existe em todo o mundo, atingindo todas as etnias. Estima-se que em Portugal existam entre 30.000 a 50.000 afetados.
O sexo masculino é o mais afetado, numa relação de dois homens para uma mulher.
Embora a doença possa surgir na infância e adolescência, a idade mais frequente do seu aparecimento é entre os 15 e 30 anos. O início em idade superior a 40 anos é raro.

Causas da doença


A causa da doença não é conhecida.
Pensa-se que seja uma doença multifactorial para a qual contribuem fatores genéticos (ligados ao gene HLA B27, ARTS1 e IL23R), hereditários (familiares de 1º grau apresentam maior risco de desenvolver a doença) e ambientais (não completamente esclarecidos).

Sintomas


Para suspeitar de um diagnóstico de espondilite anquilosante, os sintomas deverão estar presentes há, pelo menos, três meses:

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  • Lombalgia: dor na parte inferior das costas, que é mais intensa durante a noite, na cama, que acorda o doente durante a madrugada, sendo difícil encontrar posição de alívio. Melhora com o movimento e exercício físico.
  • Dorsalgia: dor na parte superior das costas que é mais intensa durante a noite, e que irradia para a parte da frente do tórax através do espaço existente entre cada costela.
  • Rigidez: limitação na mobilização da região lombar, mais intensa de manhã ao acordar, com duração superior a 30 minutos; afeta também a caixa torácica com limitação da expansão.
  • Pseudociatalgia: dor ao nível das nádegas e coxas, correspondendo ao trajeto do nervo ciático, que não ultrapassa os joelhos, nem apresenta outros sintomas acompanhantes, como sensação de formigueiro ou fraqueza, e alterna entre os dois membros inferiores.
  • Dores ao nível do calcanhar.
  • Tendinites: inflamação dos tendões, que origina inchaço e dor, principalmente a nível do calcanhar e joelho.
  • Artrite periférica: inflamação das articulações, principalmente dos membros inferiores.
  • Olho vermelho doloroso: inflamação do olho a diversos níveis. Por vezes é a primeira manifestação da doença.
  • Cansaço: a astenia e a fraqueza são muito frequentes e por vezes mais incapacitantes do que a própria dor.


O diagnóstico baseia-se sobretudo nestes sintomas, mas pode ser importante a realização de exames de imagem e análises de sangue para distinguir entre outras doenças.

Tratamento


Não existe uma cura para a espondilite anquilosante.
O objetivo do tratamento é o alívio da dor, a preservação da função articular, o atraso da destruição articular e, consequentemente, a melhoria da mobilidade e rigidez, combinando medidas farmacológicas e não farmacológicas.
A prática de atividade física adequada (como natação e hidroginástica) e fisioterapia são importantes para manter a mobilidade e uma correta postura, com impacto positivo na qualidade de vida. Controlar o peso através de uma alimentação adequada é também fundamental.
Os analgésicos e os anti-inflamatórios não esteróides melhoram a dor e a qualidade de vida, mas não contribuem para a modificação da história natural da doença.
Atualmente, existem vários tratamentos com efeito modificador da doença como anti-inflamatórios específicos (Salazopirina e Metotrexato), e as terapêuticas biológicas (Infliximab, Etanercept e Adalimumab). Não apresentam impacto imediato na dor nem na rigidez, mas modificam a evolução da doença a longo prazo, onde uma boa adesão é fundamental.
A cirurgia é uma opção que raramente é necessária. Contudo, poderá ser uma opção válida na substituição das ancas anquilosadas por próteses ou na correção de deformações graves da coluna.

Evolução e prognóstico


Apesar da espondilite anquilosante ter uma expressão variável entre doentes, apresenta frequentemente uma evolução benigna com alternância entre períodos sintomáticos e períodos de remissão espontânea dos sintomas. Na maior parte das vezes, as pessoas afetadas conseguem manter uma vida normal. As mulheres apresentam, normalmente, formas menos graves da doença.
Quanto mais precoce for o diagnóstico e o tratamento, melhor será a evolução da doença.
São fatores de pior prognóstico o início da doença com envolvimento articular periférico e ocular.

Conclusão


A espondilite anquilosante é uma doença inflamatória crónica que afeta as articulações vertebrais e da bacia. O diagnóstico é clínico e quanto mais precoce, mais favorável é a evolução da doença.

Referências recomendadas



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