Perturbações do espectro do autismo

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Autor: Maria Manuela Estevinho

Última atualização: 2017/07/24

Palavras-chave: Perturbações do desenvolvimento psicológico Perturbações do espectro do autismo



Resumo


As Perturbações do Espectro do Autismo são um conjunto de doenças do desenvolvimento crónicas, mais ou menos graves, consoante a interferência na interação social, na capacidade de comunicação verbal e não-verbal e no comportamento da criança.
A prevalência das tem vindo a aumentar em Portugal. O diagnóstico estabelece-se principalmente entre os 18 e os 36 meses de idade. A origem destas perturbações é complexa e envolve vários fatores nomeadamente genéticos, pré-natais, relacionados com o parto e psicológicos.
Apesar de não haver cura para estas doenças, é consensual que o diagnóstico e intervenção precoces melhoram muito o prognóstico, possibilitando na maioria dos casos uma vida socialmente útil.




O que é o autismo?


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O termo “autismo” foi utilizado pela primeira vez em 1943 pelo médico austríaco Kanner e resulta da junção da palavra grega “autos” que significa próprio com o sufixo “ismo” que significa orientação ou estado. Com efeito, o autismo corresponde à condição de alguém que tem tendência para se alienar da realidade exterior com uma atitude de constante concentração em si próprio.
As Perturbações do Espectro do Autismo são alterações crónicas do neurodesenvolvimento que partilham várias características e incluem o Autismo clássico, a síndrome de Asperger (autismo mais ligeiro e com melhor prognóstico), a perturbação global do desenvolvimento sem outra especificação e o Autismo atípico. Inserem-se nas Perturbações Globais do Desenvolvimento Psicológico das crianças e adolescentes.
A prevalência destas perturbações é muito variável consoante os estudos. Estima-se que possa afetar 6 em cada 1.000 crianças, um pouco mais na América do que na Europa. Em Portugal estimou-se uma prevalência de 2 a 6 casos por cada 1.000 crianças. Desde 1990, verifica-se um aumento do número de novos casos, sobretudo nos rapazes que apresentam um risco aproximadamente 4 vezes superior ao das raparigas.
A causa das perturbações do espectro autista não está completamente esclarecida e parece resultar de uma combinação complexa de fatores genéticos, pré-natais (como alterações hormonais, exposição a substâncias tóxicas e infeções), relacionados com o parto (como a prematuridade, baixo peso, infeções e traumatismos) e também psicológicos. De salientar que não há relação com a nacionalidade, etnia, classe social ou ações educacionais dos pais.

Quais as alterações associadas às Perturbações do Espectro do Autismo?


Estas perturbações manifestam-se através alterações principalmente em três domínios:

  • da interação social, com tendência para o isolamento;
  • da comunicação verbal, com atraso no desenvolvimento da linguagem, ecolália (repetição, “fala de papagaio”), uso alterado da forma negativa, inversão dos pronomes nas frases, entre outras; mas também da comunicação não verbal com voz monótona, diminuição da expressividade facial e gestos inadequados;
  • do pensamento e do comportamento, com redução da imaginação, da atenção e concentração, rigidez de pensamento e dificuldade na adaptação a mudança de rotinas, comportamentos ritualistas e repetitivos.

É também frequente os doentes apresentarem interesses restritos por objetos (por exemplo um brinquedo particular), assuntos (carros, aviões...) ações (por exemplo, alinhar brinquedos e outros objetos) ou temas amplos (como história, geografia...). Podem ainda ser evidentes alterações da sensibilidade, por vezes com insensibilidade à dor e à temperatura a par de repostas aumentadas a sons, cheiros ou texturas.

Quais os sinais de alerta?


São perceptíveis alterações no desenvolvimento dos bebés e crianças com Perturbações do Espectro do Autismo que devem ser sinais de alerta, ainda que não sejam sinónimo de doença nem estejam presentes em todos os casos.
Nos primeiros meses pode observar-se indiferença face às pessoas e ao meio envolvente, alterações do sono (sobretudo dificuldade em adormecer ou acordar várias vezes durante a noite) e do choro (que pode ser mais abundante ou, por outro lado, quase inexistente).
Quando o bebé começa a gatinhar podem observar-se comportamentos repetitivos (como movimentar a cabeça para os lados ou bater palmas) mas também alterações na interação com os cuidadores como ausência de jogo simbólico “faz-de-conta” e ausência de resposta quando chamados.
Entre os 2 e os 5 anos as alterações tendem a ser mais evidentes, sendo a linguagem a caraterística mais facilmente percepcionada pelos cuidadores.

Como se diagnosticam?


O diagnóstico das Perturbações do Espectro do Autismo pode ser feito em qualquer idade mas é muito mais frequente entre os 18 e os 36 meses. Perante os sinais de suspeita, a criança poderá ser avaliada num centro multidisciplinar de Pedopsiquiatria e Pediatria do Desenvolvimento. É particularmente importante avaliar a capacidade auditiva e os atrasos de linguagem que nada têm a ver com o espectro do autismo mas que podem condicionar sintomas semelhantes.
O diagnóstico depende da avaliação do comportamento com base em critérios estabelecidos por especialistas. A precocidade de diagnóstico é extremamente importante para que a intervenção aconteça antes dos períodos do desenvolvimento infantil que são mais propícios à aquisição de determinadas capacidades. Com efeito, de acordo com os estudos, a linguagem e as competências sociais e comportamentais desenvolvem-se maioritariamente até aos 8 anos de idade.

Quais as estratégias de intervenção?


A intervenção é sobretudo educacional, visando o desenvolvimento e treino de competências de comunicação e comportamento. Apesar de não existirem medicamentos capazes de tratar as principais alterações das Perturbações do Espectro do Autismo, os fármacos podem ser úteis no controlo de alguns sintomas acompanhantes como a ansiedade, a hiperatividade e as alterações de sono. Também, vários estudos recentes salientam a importância de atividades complementares como música, a arte, a dança e o contacto com animais que para além de serem oportunidades de comunicação favorecem a estimulação dos sentidos (sobretudo da audição, visão e tacto) e apresentam benefícios físicos e emocionais, com redução da ansiedade e aumento da autoconfiança.
Assim, ainda que não se possa falar em cura nas Perturbações do Espectro do Autismo, é importante salientar que as intervenções terapêuticas atuais multidisciplinares e integradas, envolvendo os cuidados de saúde primários, a família e a escola, são bastante eficazes, aumentando a autonomia e potenciando o desenvolvimento.

Prognóstico


O prognóstico das Perturbações do Espectro do Autismo é variável, sobretudo consoante o tipo particular de perturbação apresentada. Em termos gerais, as alterações ao nível da comunicação e do comportamento tendem a melhorar entre os 6 e os 10 anos de idade sendo que a aquisição da fala e a presença de capacidades cognitivas normais são indicadores favoráveis. Na adolescência e início da idade adulta pode haver agravamento dos sintomas que geralmente voltam a diminuir após a meia-idade.

Conclusão


As Perturbações do Espectro do Autismo são alterações crónicas do neurodesenvolvimento graves e bastante frequentes.
Um diagnóstico precoce melhora o prognóstico por permitir uma intervenção terapêutica eficaz.
A maior parte das crianças com perturbação do espectro do autismo terá uma vida normal, apesar de poder continuar a necessitar de apoio ao longo do tempo.

Referências recomendadas



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