Autor: Fábio Oliveira, Susana Sá
Última atualização: 2016/04/22
Palavras-chave: Piolhos, Lêndeas, Pediculose, Prurido
Resumo
A pediculose (infestação por piolhos) é uma das parasitoses mais frequentes no ser humano. Pode ser transmitida por contacto direto com cabelo de pessoas afetadas ou através do contacto com objetos ou materiais infestados.
O sintoma mais comum é a comichão, podendo levar a lesões de coceira.
É fundamental realizar tratamento e fazer o rastreio de contactos de forma a evitar o contágio e a ocorrência de surtos em jardins-de-infância, creches, escolas ou local de trabalho.
Piolhos da cabeça (Pediculosis Capitis)
A pediculose é uma das parasitoses mais frequentes no ser humano.
Segundo um estudo realizado em Portugal, atinge 17,2% das crianças de 4 escolas do primeiro ciclo do ensino básico da região norte.
A pediculose pode ser provocada por três espécies de piolhos: Pediculus humanus capitis, Pediculus humanus corporis e Phthirus pubis. O Pediculus humanus capitis vive habitualmente no couro cabeludo; o Pediculus humanus corporis alimenta-se no corpo mas habita também na roupa, estando frequentemente relacionado com condições de higiene precárias; e o Phthirus pubis infesta as regiões corporais pilosas, principalmente a região do púbis e, ocasionalmente, as sobrancelhas e as pestanas. O piolho da cabeça (Pediculus humanus capitis) é o mais frequentemente, sobretudo nas crianças, mas pode ocorrer em qualquer idade.
Contágio
Os piolhos são maioritariamente transmitidos através do contacto direto com cabelo de pessoas infestadas. A transmissão também pode ocorrer com o uso de vestuário infestado, tal como, chapéus, lenços, uniformes desportivos, fitas de cabelo, pentes, toalhas e escovas com piolhos, ou até mesmo permanecendo deitado numa cama, colchão, almofada ou carpete com piolhos.
Sintomas
Desde o início da parasitose até surgirem os sintomas, habitualmente, decorrem duas semanas, estando nessa altura a infestação bem estabelecida. As queixas mais frequentes são a comichão e lesões de coceira. Indiretamente pode ocorrer perturbações como desatenção e perturbações do sono devido ao desconforto físico provocado pela própria comichão.
Na pediculose não tratada pode ocorrer a infeção da pele por bactérias (por exemplo, por Staphylococcus aureus e/ou Streptococcus pyogenes), ao nível das lesões de coceira.
Adicionalmente a pediculose causa desconforto psicológico, dada a conotação negativa e desconforto social, resultante do potencial absentismo escolar e laboral.
Diagnóstico
O diagnóstico de pediculose é efetuado através da deteção de um ou mais piolhos vivos pela observação direta do cabelo. Caracteristicamente vamos encontrar os piolhos a movimentarem-se e as lêndeas ativas até cerca de 1 cm da base do cabelo. Um pente de dentes finos auxilia nesta tarefa.
Tratamento
Perante as queixas descritas e a suspeita de infestação por piolhos é importante:
- Confirmar o diagnóstico e ser tratado. O seu médico poderá orientar a melhor estratégica para cada caso;
- Os contactos próximos, parceiros e familiares, deverão pesquisar a presença de pediculose. Aqueles com infestação ativa deverão realizar o tratamento, mesmo sem sintomas. As pessoas que partilham a mesma cama, também deverão realizar tratamento mesmo sem evidência de pediculose.
- Informar os conviventes, nomeadamente nas escolas, para que estes procedam ao tratamento se afetados. A pediculose não é uma doença de evicção escolar obrigatória.
Passos para a aplicação do tratamento:
- Aplicar o produto pediculicida (p.ex: Quitoso ®, Nix ®, Piky ®, Itax ®, Pára Pio duo LP ®, Neoparaderma ®, Lipuk ®, Paranix ®), de acordo com as instruções contidas no rótulo. Se a pessoa afetada possuir um cabelo muito longo (abaixo do ombro), pode ser necessário usar uma segunda embalagem.
ATENÇÃO: Não se deve usar combinações de champô/condicionador ou condicionador antes do pediculicida. Não recomendada a lavagem do cabelo 1 a 2 dias após a aplicação de produto pediculicida.
- Após a aplicação do produto, deve-se usar roupa lavada.
- Se forem encontrados poucos piolhos vivos e a movimentarem-se lentamente, passadas 8 a 12 horas do tratamento, não está recomendada a repetição do tratamento. Deve-se passar o pente fino para remover os piolhos mortos e os restantes piolhos vivos.
- Se após 8 a 12 horas de tratamento, os piolhos parecerem ativos como anteriormente, pode significar que o tratamento não está a ser eficaz. Nestes casos, o médico assistente poderá verificar se existe alguma complicação ou se necessita de outro tipo de intervenção.
- Deve-se pentear o cabelo, a cada 2/3 dias, com pentes de lêndeas para remover lêndeas e piolhos e confirmar regularmente a presença de lêndeas ou piolhos durante 2 a 3 semanas.
- Para alguns produtos, a repetição de tratamento é recomendada de forma rotineira após o primeiro tratamento, enquanto que noutros só se deverá repetir se houver piolhos sobreviventes.
Para além do tratamento farmacológico, outras medidas complementares são importantes:
- Lavar e secar toda a roupa utilizada nos 2 dias anteriores ao início do tratamento, a temperatura superior a 60ºC ou limpar a seco ou manter a roupa em sacos fechados durante 2 semanas.
- Mergulhar pentes e escovas em água quente (>60ºC) durante 5 a 10 minutos, mesmo que não tenha parasitas visíveis.
- Aspirar o chão ou mobília, particularmente os locais onde a pessoa com piolhos se sentou ou deitou.
Prevenção
A pediculose pode ser prevenida:
- Evitando o contacto direto com cabelo de pessoas infestadas e com objetos ou materiais possivelmente infestados;
- Tratar pessoas com pediculose e contactos próximos com infestação ativa. Aqueles que partilham a mesma cama, também deverão efetuar tratamento mesmo sem infestação;
- Proceder às medidas gerais em relação aos objetos ou materiais possivelmente infestados (acima descritas).
- Em crianças que aparecem frequentemente com piolhos, pode ser útil manter os cabelos curtos.
Conclusão
A pediculose da cabeça é uma das parasitoses mais frequentes.
É facilmente diagnosticada e tratada. O diagnóstico precoce é muito importante, podendo evitar o contágio dos contactos diretos e o surgimento de surtos.
Referências recomendadas
- Centers for Disease Control and Prevention: Parasites – Head Lice, 2013
- Melo, P; Maia, P; Cantante, AP; Antunes, A; Alves P. A prevalência da pediculose nas crianças das escolas do primeiro ciclo do ensino básico de uma freguesia da região norte de Portugal. Sociedad Española de Salud Publica e Administracion Sanitaria, 2013
- Dias, A; Fernandes ,L; Salgado ,M. Pediculosis capitis - Revisão teórica e modalidades de tratamento. Saúde Infantil, 31 (2): 63-67, Set 2009
- Liga Acadêmica de Dermatologia – Pediculose