Autor: Ana Ramos, Sílvia Camões
Última atualização: 2016/09/27
Palavras-chave: Helicobacter pylori; Infeção; Erradicação; Gastrite
O Helicobacter pylori (Hp) é uma bactéria que infeta o estômago humano e está associada a alterações gástricas importantes. A infeção é adquirida durante a infância e está intimamente relacionada com más condições higieno-sanitárias.
Os sintomas são pouco comuns e inespecíficos. O mais frequente é a dor localizada à região do estômago, podendo ser importante a realização de alguns exame para confirmar o diagnóstico.
A infeção por Hp constitui um desafio terapêutico, muito devido à elevada resistência antibiótica. A decisão de tratar deverá ser baseada em critérios claros, apesar da controvérsia existente. O regime terapêutico, apesar das diferenças, consiste sempre na associação de um inibidor da bomba de protões e vários antibióticos. A eficácia é, em geral, superior a 80%. No adulto, uma vez confirmada a erradicação da bactéria, a reinfeção é pouco comum.
O Helicobacter pylori (Hp) é uma bactéria com formato em espiral que infeta o estômago humano e origina uma reação inflamatória local, estando associada com o aparecimento de gastrite crónica, úlcera péptica e cancro gástrico.
Tipicamente a infeção é adquirida durante a infância (quer por contacto direto, quer por ingestão de produtos contaminados) e está intimamente relacionada com más condições higieno-sanitárias. Permanece como uma das infeções humanas mais prevalentes em todo o Mundo, atingindo cerca de 50% da população. É mais frequente nos países em vias de desenvolvimento do que nos países desenvolvidos, onde a taxa de infeção diminuiu substancialmente na última década muito devido à melhoria das condições de higiene.
Em Portugal, são poucos os estudos realizados mas, os resultados existentes indicam uma elevada prevalência, com valores superiores a 80% da população (Porto, 2013).
Frequentemente, a infeção não dá sintomas, a não ser que surjam complicações como a gastrite ou a úlcera no estômago ou no duodeno, capazes de causar dor localizada à região do estômago - sintoma dominante. Dificuldade na digestão, plenitude e desconforto abdominal, sensação de saciedade precoce, azia e eructação excessiva são alguns dos sintomas que podem acompanhar.
Em função dos sintomas que apresenta e da avaliação do seu estado físico, o médico poderá aconselhar a realização de outros exames.
Os métodos diagnósticos para Hp podem ser divididos em 2 grupos: métodos não-invasivos e métodos invasivos que se baseiam em biópsias colhidas por endoscopia digestiva alta.
Teste respiratório com ureia (Carbono-13/Carbono-14) |
Ingestão de ureia marcada com carbono radioativo (C-13/C-14), forma de comprimido. Se Hp presente no estômago, há reação e o carbono é libertado e absorvido pelo estômago, sendo depois eliminado pela respiração. O ar expirado é analisado para a presença e quantidade de carbono. |
Muito eficaz Simples Diagnóstico e Monitorização da eficácia terapêutica pós-erradicação |
Dispendioso Não comparticipado Jejum de 6 horas Interrupção IBP 2 semanas antes |
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Teste do antigénio fecal | Deteção de antigénios fecais do Hp em amostra de fezes usando anticorpos monoclonais (técnica mais acessível). | Eficaz Diagnóstico e Monitorização da eficácia terapêutica pós-erradicação |
Dispendioso, mas mais acessível Não comparticipado Interrupção IBP 2 semanas antes Dependente do laboratório onde é realizado – técnica acreditada |
Teste serológico | Deteção de anticorpos IgG específicos para o Hp, no sangue. | Económico Acessível Comparticipado Sem necessidade interrupção IBP |
Baixa acuidade diagnóstica Diagnóstico de infeção, mas não monitorização da erradicação |
Teste da urease rápida | Durante a endoscopia, é colhido um fragmento da mucosa gástrica que é colocado num meio liquido contendo ureia e um indicador colorido de pH. Se Hp presente, e por ação de uma enzima – urease – vai haver libertação de amónia com aumento do pH e alteração da cor do liquido. Resultado em 1 minuto. |
Eficaz Económico Acessível Rápido |
Interrupção IBP 2 semanas antes INVASIVO |
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Histologia | Durante a endoscopia, é realizada biópsia de mucosa gástrica que posteriormente é analisada. | Muito eficaz Fornece um conjunto de informações relevantes Não necessita de interrupção IBP |
Dispendioso INVASIVO |
Cultura | Durante a endoscopia, é realizada biópsia de mucosa gástrica que posteriormente é cultivada em meio próprio para estimular o crescimento de Hp e realizar testes de suscetibilidade antimicrobiana. | Muito eficaz Possibilita a determinação dos antibióticos mais eficazes (antibiograma) |
Dispendioso Difícil execução Raramente disponível Demorado INVASIVO |
Testes moleculares | Durante a endoscopia, é realizada biópsia de mucosa gástrica que vai ser analisada. Testes laboratoriais, recentes, para detetar o Hp e a resistência à claritromicina e/ou fluoroquinolonas. | Muito eficaz Possibilita a determinação dos antibióticos mais eficazes (antibiograma) |
Dispendioso Raramente disponível INVASIVO |
A opção pelo método mais indicado para cada caso dependerá de um conjunto de fatores que têm a ver com aspetos clínicos, da preferência do doente e de facilidade de acesso, e de ordem económica.
O Colégio Americano de Gastroenterologia recomenda o diagnóstico e tratamento em indivíduos com:
Outras situações poderão beneficiar do tratamento mas terão de ser ponderadas caso a caso como a doença do refluxo gastro-esofágico, a anemia ferropénica inexplicada, as pessoas que utilizam cronicamente medicamentos anti-inflamatórios, ou populações com elevado risco de cancro gástrico).
O tratamento de erradicação do Hp deverá ser prescrito pelo médico, a quem cabe escolher o melhor regime terapêutico, tendo em conta a exposição prévia a antibióticos, as taxas de resistência antibiótica da região e a adesão do doente.
O tratamento consiste habitualmente na associação de um inibidor da bomba de protões (IBP) e 2 ou mais antibióticos, consoante o regime escolhido, durante 10 a 14 dias. A eficácia é, em geral, superior a 80%.
No adulto, uma vez confirmada a erradicação da bactéria, a reinfeção é pouco comum.
A infeção por Hp constitui um fator de risco para o aparecimento de gastrite crónica, úlcera péptica e cancro gástrico. A persistência do Hp no estômago pode complicar a evolução destas patologias, com maior ou menor gravidade:
A infeção por Helicobacter pylori é muito prevalente em Portugal. Está na origem de múltiplas patologias do estômago e tubo digestivo, algumas com gravidade, mas nem todas as pessoas beneficiam de se tratar esta infeção. O médico assistente decidirá em cada caso qual a melhor opção.