Autor: Nivalda Pereira
Última atualização: 2018/02/06
Palavras-chave: Puerpério, Psicose, Saúde mental, Vinculação mãe-filho
ResumoA psicose puerperal é o mais grave quadro psiquiátrico perinatal, podendo atingir 1 a 2 mulheres em cada 1000 que se encontram no puerpério, ou seja, período que decorre entre o nascimento do(s) recém-nascido(s) e as 6 semanas após o parto. |
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O puerpério é uma fase de risco na vida de uma mulher para problemas de saúde mental. A psicose puerperal constitui o mais grave quadro psiquiátrico perinatal e é considerada uma emergência psiquiátrica, em virtude dos riscos para a mãe e para o recém-nascido e da flutuação rápida do quadro de sintomas, exigindo intervenção imediata habitualmente em internamento psiquiátrico.
É uma condição clínica rara, apresentando uma prevalência muito inferior à depressão puerperal e ao blues pós-parto, outras perturbações psiquiátricas do puerpério. É mais frequente no primeiro mês após o parto.
Os principais fatores de risco são a história pessoal ou familiar (em relação de primeiro grau) de doença bipolar, que aumenta o risco desta patologia em 100 vezes, e um episódio prévio deste tipo de psicose, após o qual se estima um risco de recorrência em parto subsequente entre 20 a 90%. A primiparidade, a idade materna avançada, ser mãe solteira, o baixo estrato socioeconómico, o parto por cesariana, as complicações periparto, o trabalho de parto prolongado e a privação de sono são fatores que se encontram associados a uma maior prevalência da psicose puerperal.
O início da psicose puerperal ocorre habitualmente na primeira semana após o parto.
Nas fases iniciais predominam a insónia, a ansiedade, a agitação e as ideias e atitudes associadas a desconfiança face aos outros. São frequentes sintomas depressivos e/ou maníacos, com rápidas flutuações do humor, comportamento bizarro, desorganização do pensamento, desorientação e perda de noção do seu estado clínico.
À medida que esta psicose progride, a sintomatologia psicótica domina o quadro, surgindo delírios de grandeza projetados sobre o bebé e/ou vozes imperativas que mandam fazer-lhe mal.
O risco de suicídio é muito elevado nestas mulheres com pico de incidência no primeiro mês após o parto. Os filhos destas mulheres encontram-se em risco, quer por incapacidade para a prestação de cuidados, quer devido à influência das alucinações ou delírios que poderão contribuir, nas situações muito graves, ao infanticídio e ao suicídio alargado.
A psicose puerperal deve ser diferenciada de situações médicas com manifestações clínicas semelhantes e com risco aumentado durante o puerpério, tais como a tiroidite puerperal, porfiria aguda, acidente vascular cerebral e trombose venosa central.
O tratamento em internamento psiquiátrico é comum pela gravidade do quadro clínico. Os principais fármacos utilizados são os antipsicóticos e os estabilizadores do humor. Alguns destes são excretados pelo leite materno o que obriga a suspensão do aleitamento materno.
A eletroconvulsivoterapia é uma opção terapêutica eficaz na abordagem desta psicose, em particular nos casos graves e refratários à terapêutica farmacológica. Esta permite a continuidade da amamentação e uma recuperação mais rápida e, desta forma, uma redução da duração da descompensação psicótica e do internamento.
Durante o tratamento, a convivência persistente entre a mãe e o filho deve ser permitida de forma a estimular e fortalecer a vinculação mãe-filho, essencial para a recuperação da saúde mental da mãe e para o desenvolvimento do recém-nascido.
O prognóstico é geralmente favorável, dado que a maioria das mulheres regressa ao seu nível de funcionamento anterior. Contudo, as mulheres mantém um elevado risco de aparecimento de novos episódios psiquiátricos, relacionados ou não com o puerpério.
É fundamental a aquisição de medidas que visem diminuir a privação de sono nas primeiras semanas de puerpério. A farmacoterapia profilática com início no pós-parto imediato poderá apresentar benefícios nas mulheres com episódios prévios de psicose puerperal.
Trata-se de uma condição clínica grave que prejudica o desenvolvimento de uma vinculação mãe-filho saudável com consequências significativas para a saúde mental da mãe e da geração seguinte.