Autor: Joana Costa e Silva, João Almeida Moura
Última atualização: 2018/11/26
Palavras-chave: Epilepsia, Contraceção, Gravidez, Malformações fetais
ÍndiceResumoA epilepsia não contraindica a gravidez, contudo está associada a um maior risco de complicações antes e depois do parto, tanto para a mãe como para o bebé. A medicação antiepilética é muito importante para o controlo da epilepsia, mas pode aumentar o risco de malformações fetais, especialmente com medicamentos contendo ácido valpróico, medicamentos em doses altas ou em associação, obrigando a ponderar os riscos associados à medicação e os riscos associados às crises convulsivas durante a gravidez. |
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A epilepsia é a doença do sistema nervoso mais comum na gravidez. A epilepsia não contraindica a gravidez. Contudo, para reduzir os riscos para a mãe e para o bebé, é importante consultar o seu médico assistente antes de engravidar, de forma a ponderar todos os riscos, ajustar a medicação e iniciar uma suplementação adequada.
A história natural da epilepsia é alterada pela gravidez devido às alterações hormonais (os estrogénios aumentam o risco de crises, enquanto que a progesterona diminui), à diminuição da eficácia da medicação antiepilética (devido à menor absorção quando há náuseas e vómitos e devido ao aumento do volume corporal) e à privação do sono que aumenta o risco de crises.
Comparativamente à população geral, as grávidas com epilepsia apresentam um maior risco de hemorragias, descolamento da placenta, atraso do crescimento intra-uterino, pré-eclâmpsia, parto pré-termo, e morte fetal e/ou materna. Este risco está relacionado com a própria epilepsia e a ocorrência de convulsões.
Apesar disto, a maioria das mulheres com epilepsia controlada não sofre um aumento do número de crises durante a gravidez, e em mais de 90% dos casos a gravidez decorre dentro da normalidade.
A medicação antiepilética ideal durante a gravidez ainda não é clara, contudo os medicamentos contendo ácido valpróico devem ser evitados devido aos elevados riscos para o bebé. O uso de múltiplos medicamentos em simultâneo também deve ser evitado, especialmente combinações com ácido valpróico, carbamazepina e fenobarbital.
Ácido Valpróico |
Defeitos do tubo neural (espinha bífida e mielomeningocelo); malformações cardiovasculares, genitourinárias; alterações craniofaciais. A longo prazo está associado a atraso no desenvolvimento cognitivo e a perturbações do espectro do autismo. |
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Fenitoína e Fenobarbital |
Fissuras orofaciais; neuroblastomas; |
Carbamazepina |
Espinha bífida e malformações genitourinárias |
Topiramato |
Fissuras orais e atraso no crescimento intra-uterino |
Levetiracetam |
Baixo risco de malformações major |
Lamotrigina e Pregabalina |
São necessários mais estudos |
Recomenda-se que exista um período de tempo sem crises de 6 a 12 meses antes de engravidar, com o medicamento antiepilético que se mostre mais eficaz, idealmente em monoterapia (apenas com 1 medicamento antiepilético) e na menor dose possível.
Durante toda a gravidez é recomendado manter a suplementação com ácido fólico e será realizada a vigilância adequada das malformações fetais.
Na maioria das mulheres o parto ocorre por via vaginal e sem complicações. O risco de convulsões durante o parto e nas primeiras 24 horas pós-parto é baixo.
A medicação antiepilética não impede a amamentação, uma vez que os benefícios superam os riscos.
É importante manter a medicação antiepilética, bem como tentar descansar adequadamente e reduzir os fatores de ansiedade.
É importante que a mãe tome precauções para evitar lesionar o bebé no caso de ter uma crise convulsiva, principalmente nos momentos em que o bebé se encontra mais vulnerável:
De forma a realizar uma contraceção eficaz, com o mínimo de efeitos adversos possível, é importante conhecer as interações da medicação antiepilética com os métodos contracetivos: a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as mulheres que estejam a tomar os seguintes antiepiléticos: Fenitoína, Fenobarbital, Carbamazepina, Oxcarbazepina, Primidona, Topiramato ou Lamotrigina usem um método contracetivo que não seja a pílula (tanto combinada como progestativo oral), transdérmico (adesivos) ou anel vaginal. Isto porque a eficácia quer dos métodos contracetivos quer dos antiepiléticos vai estar diminuída. Ou seja, os métodos mais eficazes e com menos interações são os preservativos, os dispositivos intrauterinos (DIU) e o implante subcutâneo (vulgarmente conhecido por Implanon®).
A epilepsia aumenta o risco de complicações durante a gravidez, contudo este risco pode ser minimizado com o correto acompanhamento médico.