Autor: Pedro Santos Sousa, Francisca Silva
Última atualização: 2018/10/10
Palavras-chave: Doença inflamatória intestinal, doença de Crohn, gastroenterologia
ÍndiceResumoA Doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal crónica, que não tem causa conhecida. Pode afetar qualquer indivíduo, sendo mais frequente no homem, com 2 picos de incidência (15-30 anos e 60-80 anos). |
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A Doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal crónica.
Ocorre uma inflamação desordenada do aparelho gastrointestinal em qualquer parte do seu trajeto: boca, esófago, estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno, íleo) e grosso (cólon), reto e região do ânus. É mais frequente no íleo terminal (na junção com o cólon).
A doença parece resultar da interação entre fatores genéticos e ambientais, embora se desconheça a causa exata.
Existe outra doença inflamatória intestinal, a Colite Ulcerosa, que se distingue do Crohn por atingir predominantemente a região do reto, progredindo continuamente ao longo do intestino, em vez de forma dispersa como no Crohn.
Algumas situações podem favorecer o aparecimento da doença:
A Doença de Crohn tem uma apresentação variável. A maioria dos doentes tem dor abdominal (80%), perda de peso (60%) e alterações do trânsito intestinal. A diarreia crónica é o sintoma mais comum, durando várias semanas (contrariamente à diarreia aguda de causa infeciosa). Podem surgir sangue ou muco nas fezes, embora estes sejam mais caraterísticos da colite ulcerosa.
Uma caraterística da Doença de Crohn é que pode originar sintomas extra-intestinais, em 50% dos doentes, mesmo antes dos sintomas intestinais aparecerem:
A Doença de Crohn tem apresentações, localização e evolução muito variáveis. O médico irá questionar acerca da idade de início dos sintomas, viagens recentes, intolerâncias alimentares, medicamentos utilizados, cirurgias intestinais realizadas e presença fatores de risco. Os exames de sangue e às fezes podem detetar sinais de inflamação no organismo.
O exame de primeira-linha para o diagnóstico da doença é a endoscopia digestiva baixa (ileo-colonoscopia), que permite visualizar o cólon e íleo terminal (locais onde a doença é mais frequente), com realização de biópsias para exame microscópico.
Quando não se consegue estabelecer o diagnóstico, mas a suspeita clínica é grande, pode ser necessário repetir os exames descritos ou realizar outros, mais específicos, para visualizar todo o trato gastrointestinal mais pormenorizadamente.
A Doença de Crohn não tem cura, mas pode ser controlada para os doentes permanecerem sem sintomas e com boa qualidade de vida. Os medicamentos mais utilizados são os corticoides e imunossupressores, em comprimidos. Para além desses, existem fármacos injetáveis contendo anticorpos (medicamentos “biológicos”), com grande efeito anti-inflamatório, usados nas doenças de difícil controlo. Nesses casos, é fundamental garantir que o doente não tem nenhuma infeção potencial, como uma tuberculose “adormecida” (os agentes biológicos podem ativá-la), e atualizar o esquema vacinal contra a pneumonia e contra o tétano.
Quando a terapêutica farmacológica falha, pode ser necessário realizar uma cirurgia para retirar os segmentos afetados do intestino. A cirurgia também é utilizada para tratamento das complicações da doença (fístulas e abcessos da região do ânus).
A prática de exercício físico regular e uma alimentação variada e equilibrada são importantes auxiliares ao tratamento. Os doentes podem aperceber-se de determinados alimentos que agravam os sintomas, evitando-os nesse sentido.
A Doença de Crohn pode ser controlada, garantindo uma boa qualidade de vida aos doentes.
Contudo, podem surgir agravamentos pontuais dos sintomas e da inflamação gastrointestinal. Os casos de pior prognóstico são aqueles em que a doença é de difícil controlo, com sintomas graves apesar do tratamento e que atinja uma grande área. Esses doentes, além dos sintomas graves, estão mais sujeitos a complicações da doença, como fístulas e abcessos, e à evolução para cancro do intestino.
A Doença de Crohn é uma doença crónica e incurável. Pode ter complicações graves, mas os tratamentos atuais são eficazes em garantir a melhor qualidade de vida a estes doentes.