Autor: Catarina Rebelo, Tiago Sousa, Leonor Luz Duarte, Joana Queiroz-Machado
Última atualização: 2019/07/18
Palavras-chave: Fissura anal, obstipação, alimentação,
ÍndiceResumoA fissura anal consiste numa laceração no canal anal, sendo uma causa comum de dor nessa região, que pode levar a um grande desconforto no dia-a-dia. |
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A fissura anal é uma causa comum de dor no ânus em todos os grupos etários, afetando 1 em cada 1000 pessoas anualmente. É mais comum em adultos jovens ou na meia idade, afetando igualmente homens e mulheres. Na mulher, o 3º trimestre de gravidez e o pós-parto são períodos de maior suscetibilidade para o seu aparecimento.
A fissura anal consiste numa laceração no canal anal. Localiza-se mais frequentemente no bordo de trás do ânus (cerca de 90% dos casos), embora também possam surgir em outros locais. Quando presentes nas zonas laterais do ânus, se forem de grandes dimensões, múltiplas ou irregulares, podem ser sinal de outras doenças (como doença de Crohn, doenças sexualmente transmissíveis e alguns tipos de cancro), pelo que a avaliação médica é muito importante. A maioria das fissuras surge isoladamente.
A dor anal leva à contração involuntária e exagerada dos músculos do ânus, apertando os vasos sanguíneos, diminuindo a irrigação sanguínea e dificultando a sua cicatrização. Na maioria dos casos estas pequenas lacerações cicatrizam sem deixar marcas. Em algumas pessoas, quando a contração dos músculos do ânus é demasiado intensa, a fissura demora mais a cicatrizar. Estas situações podem durar algumas semanas a resolver, tornando-se crónicas se ultrapassarem as 8 a 12 semanas.
O fator de risco mais comum para fissura anal isolada é a obstipação crónica, vulgo “prisão de ventre”, que está associada a traumatismo anal por passagem de fezes duras. Múltiplos episódios de diarreia, parto vaginal ou prática de sexo anal também são fatores de risco.
As queixas mais frequentes consistem em dor no ânus associada à defecação e presença de sangue nas fezes, podendo também existir sensação de ardor, queimadura ou “rasgadura”, muitas vezes grave e incapacitante. A dor surge caracteristicamente com a passagem das fezes e pode persistir por um período de tempo variável, desde alguns minutos até algumas horas. A dor pode irradiar para a região lombar, nádegas, coxas ou genitais.
A observação da fissura é suficiente para o diagnóstico, não sendo necessários mais exames na maioria dos casos. As fissuras anais crónicas são tipicamente mais profundas, têm bordos mais consistentes e apresentam frequentemente uma prega na margem anal denominada marisca sentinela.
A maioria das fissuras isoladas resolvem com alterações dos hábitos de vida, e aplicação local de cremes e pomadas.
Os objetivos do tratamento consistem em aliviar a dor e diminuir a contração dos músculos do ânus. Também é importante evitar os fatores que levam ao surgimento da fissura, amolecendo as fezes no caso da obstipação e usando lubrificante adequado no caso da prática de sexo anal.
A obstipação pode ser evitada através de uma dieta rica em fibras (vegetais, frutas, cereais), de um aumento da ingestão de água e da prática regular de exercício físico. Se estas medidas não forem suficientes poder-se-á recorrer ao uso de laxantes, que deverão ser prescritos pelo seu médico.
O alívio dos sintomas pode ser conseguido recorrendo a banhos de assento (sentar-se em água morna por 5 a 10 minutos após a dejeção), evitando uso de papel e utilizando um toalhete após a lavagem. O seu médico poderá aconselhar a aplicação local de anestésicos, corticóides, nitratos ou bloqueadores de canais de cálcio.
A cirurgia está apenas indicada para as fissuras crónicas que não resolveram com tratamento médico. Esta consiste habitualmente na secção (“corte”) do músculo do ânus, de forma a reduzir a tensão exercida na fissura. Este procedimento associa-se a um risco, embora reduzido, de incontinência fecal.
A fissura anal é um problema de saúde muito comum e que pode causar grande sofrimento. No entanto, o seu diagnóstico é simples e o tratamento atempado é habitualmente eficaz.