Autor: Cláudia Vieira, Catarina Oliveira
Última atualização: 2020/04/13
Palavras-chave: andarilho, crianças, prevenção, acidentes
ÍndiceResumoÀ medida que a criança cresce e se desenvolve surgem novos riscos que é importante conhecer e antecipar. Os traumatismos e ferimentos acidentais são a maior causa de morte e deficiência nas crianças e jovens em Portugal. |
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O andarilho (aranha, andador, voador) é uma espécie de cadeirinha suspensa sobre uma armação de metal e/ou plástico provida de rodas que permite à criança deslocar-se sozinha sobre o pavimento com o impulso dos próprios pés.
A grande maioria dos pais acredita que o andarilho promove o desenvolvimento motor do seu filho e que este fica em segurança, permitindo-lhes realizar outras tarefas ao mesmo tempo.
Num estudo, realizado pela Associação para a Segurança Infantil (APSI) e pela Unidade de Vigilância Pediátrica estima-se que todos os anos sejam atendidas nos Serviços de Urgência hospitalares cerca de 650 crianças vítimas de acidentes com andarilhos. As idades mais afetadas são entre os 7 e os 15 meses de idade. Mais de três quartos dos casos são quedas em escadas. Mais de 60% das crianças acidentadas sofreram traumatismos cranianos, com risco de morte ou sequelas para toda a vida. Estes são os casos graves aos quais se somam uma quantidade enorme de pequenos acidentes ligeiros que são tratados nos Cuidados de Saúde Primários ou mesmo nos infantários ou em casa e que não são contabilizados.
A criança no andarilho consegue deslocar-se rapidamente de divisão em divisão sem qualquer controlo, o que não permite aos pais reagir a tempo de impedirem um acidente. Em mais de 50% dos acidentes com andarilhos há um adulto por perto.
Quedas das escadas ou tropeções em desníveis fazem o andarilho virar-se, levando o bebé a bater com a cara ou com a cabeça no chão originando traumatismos cranianos, fraturas dos membros superiores e inferiores, cortes na língua e lábios e fraturas nos primeiros dentes, entre outros. Ao utilizar o andarilho a criança fica mais alta, chegando facilmente aos objetos, com os perigos inerentes, puxando toalhas e alcançando objetos que podem queimar ou cortar, e aumentando de uma forma geral o risco de acidentes.
Em 2004, o Canadá foi o primeiro país a legislar sobre a proibição de venda de andarilhos para crianças. Um pouco por todo o mundo vão-se acumulando recomendações para a sua não utilização. Em Portugal, o Ministério da Saúde avisa sobre os riscos da utilização no Boletim de Saúde Infantil tanto para as meninas como para os meninos. Mesmo com o conjunto de normas a que estes produtos estão obrigados, continuam a conferir um risco excessivo de acidente e devem ser evitados.
A ideia de muitos pais é de que o andarilho permite que a criança aprenda a andar mais cedo e com maior facilidade. Na verdade, não poderiam estar mais enganados. As crianças que usam andarilhos têm mais dificuldade em gatinhar e andar do que as que nunca os utilizaram.
O andarilho é mesmo desadequado ao desenvolvimento da capacidade de marcha. O facto de a criança ficar em pé nos andarilhos impede-a de rolar, sentar ou gatinhar que são as bases para a aquisição da marcha. Além disso, como o bebé anda na ponta dos pés, causa tensão nos músculos das pernas atrasando o desenvolvimento e levando a posições pouco naturais.
O andarilho é um produto perigoso, independentemente da vigilância dos pais e a sua utilização pode ser prejudicial ao desenvolvimento psicomotor da criança.
Aqui, mais do que em muitos outros aspetos, mais vale prevenir do que remediar!