Autor: Paulo Santos
Última atualização: 2017/12/11
Palavras-chave: Dislipidemia, Diabetes Mellitus, Risco cardiovascular, Alimentação, Atividade física
ÍndiceResumoA prevalência da diabetes tem vindo a aumentar, estimando que possa atingir 13,3% da população entre os 20 e os 70 anos em Portugal em 2015. |
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O colesterol é uma gordura existente no organismo, essencial para o seu bom funcionamento. Tem duas origens: há uma parte que é produzida dentro do próprio organismo, principalmente no fígado, e outra que é ingerida através da alimentação.
Desempenha funções fundamentais no organismo, integrando a constituição das paredes das células e participando na produção de vitaminas, hormonas e ácidos biliares. No entanto, a quantidade necessária para todas estas funções é muito pequena, e o colesterol em excesso pode acumular-se na parede das artérias e constituir um risco significativo de desenvolver várias doenças, em especial doenças cardiovasculares, como o enfarte agudo do miocárdio (EAM) ou o acidente vascular cerebral (AVC).
Como qualquer gordura, não é miscível com a água e, portanto, não consegue circular no sangue isoladamente. É necessário haver proteínas que “carreguem” o colesterol na circulação sanguínea, chamadas de lipoproteínas transportadoras de colesterol.
O risco cardiovascular depende sobretudo do peso relativo de duas destas proteínas: as HDL (do inglês, high density lipoprotein), também chamadas de colesterol bom, e as LDL (low density lipoprotein), ou colesterol mau. O LDL transporta o colesterol do fígado até às artérias periféricas: quanto mais elevado estiver o nível de LDL, maior o risco da pessoa vir a sofrer uma doença cardiovascular. O HDL retira colesterol das artérias e leva-o ao fígado para ser eliminado: níveis mais altos de HDL representam uma proteção efetiva e estão associados a menor risco de doença.
Os doentes com diabetes mellitus apresentam à partida um risco de vir a sofrer doença cardiovascular muito superior ao das pessoas que não têm diabetes. Quando acrescentamos no mesmo doente outros fatores de risco, como a hipertensão arterial, o colesterol elevado, o tabagismo, o sedentarismo, o excesso de peso / obesidade, …, este risco multiplica-se.
Com a exceção de um pequeno grupo de doentes com Diabetes Mellitus tipo 1 até aos 40 anos e que não apresentam lesões relacionadas ou outros fatores de risco, todos os doentes com Diabetes Mellitus apresentam um risco cardiovascular alto ou muito alto, com uma probabilidade significativa de vir a sofrer um enfarte do miocárdio ou um acidente vascular cerebral (AVC).
A diabetes provoca só por si alterações da distribuição do colesterol e outras gorduras no sangue, fazendo com que, para os mesmos valores, a carga aterogénica (probabilidade de doença) seja muito superior.
Gerir este risco é controlar a diabetes e os restantes fatores de risco, incluindo o colesterol elevado.
Para a maioria dos doentes com diabetes, o valor desejado do colesterol LDL é inferior a 100 mg/dl (doentes de alto risco) ou inferior a 70 mg/dl (doentes de muito alto risco).
A principal razão para o aumento dos níveis de colesterol é a alimentação e a ingestão de bebidas alcoólicas. No entanto existem outros fatores que contribuem para o seu aumento, sendo eles:
Grupos de Alimentos | ||||
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Gorduras e Óleos | Azeite Extra-Virgem | Óleo de Soja | Manteiga, Banha, Frituras Gordura Trans e Saturada | |
Pães, cereais e Massas | Cereais Integrais, Linhaça Arroz Integral, Massa Integral |
Batata, Massa, Arroz Branco | Bolacha Recheada, Pão Branco Bolos Prontos, Croissant | |
Lacticínios | Leite Magro, Queijo Branco, Iogurte Magro | Leite Meio-gordo, Iogurte | Leite Gordo, Leite Creme Queijos amarelos e cremosos Leite condensado, Requeijão | |
Frutas | Todas | Em calda | ||
Verduras | Todas | Preparadas em creme Gratinadas, Fritas | ||
Leguminosas | Feijão, Ervilhas frescas Lentilhas, Grão de bico, |
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Carnes | Aves sem pele (Frango, peru) | Carne Vermelha Magra | Carne de Porco (com gordura) Bacon, Linguiça, Salsicha Presunto, Mortadela, Salame Carne Vermelha com Gordura | |
Peixes | Todos | Camarão, Lagosta, Lagostim | Fritos | |
Bebidas | Água, Sumo de Fruta Natural | Café, Chá Preto | Refrigerantes, Achocolatados | |
Ovos | Omeleta, Ovo Cozido | Ovos Fritos | ||
Frutos secos | Nozes, amendoins | |||
Bebidas alcoólicas | Dois copos vinho/dia (homens) Um copo vinho/dia (mulheres) |
Bebidas destiladas ou com alto teor alcoólico | ||
Doces / Açúcar | Mel , Chocolate amargo Açúcar Mascavado Gelado de fruta à base de água |
Bolos, Bolachas Gelados, Caramelos, Chicletes Chocolate, Doce de Leite | ||
Industrializados | Adoçantes | Sopas Prontas Caldos de Carne Temperos Prontos |
É possível que os diabéticos possam controlar os níveis de colesterol dentro dos valores recomendados através de estratégias de reeducação alimentar, prática regular de atividade física e modificação de estilos de vida potencialmente nocivos.
Este aspeto é fundamental, pois além de melhorar os níveis de colesterol, tem também efeito na pressão arterial, no controlo dos açúcares e na redução do peso, além de melhorar a auto-estima e baixar os níveis de ansiedade.
No entanto, muitos doentes poderão não conseguir manter os seus valores do colesterol dentro dos limites desejados. Nesse caso, o médico poderá receitar algum tipo de medicamentos para ajudar a controlar.
A medicação não cura a dislipidemia, apenas controla, pelo que só a sua toma regular e continuada, sem esquecimentos nem paragens, poderá ser eficaz.
O excesso de colesterol nos doentes com diabetes mellitus é um fator de risco muito importante para o aparecimento de doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte em muitos países do mundo, incluindo Portugal.
É sempre melhor prevenir do que viver com a doença. A prevenção é possível e está ao alcance de todos com medidas relativamente fáceis no dia-a-dia: comer melhor, mexer-se mais, não fumar, controlar o peso e os restantes fatores de risco, e tomar a medicação, quando necessário.