Autor: Ana Margarida Marques; Maria Inês Silva
Última atualização: 2018/06/14
Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Doenças crónicas; Medicina Paliativa
ÍndiceResumoOs Cuidados paliativos são cada vez mais importantes, tendo em conta o aumento da esperança média de vida e da instalação das doenças crónicas. |
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Os avanços marcados da Medicina moderna permitiram a cura de muitas situações antigamente mortais, sobretudo nas doenças agudas. Todos os progressos científicos e sociais alcançados contribuíram para o aumento da longevidade, originando, sobretudo no mundo ocidentalizado, o fenómeno da emergência das doenças crónicas.
Também em Portugal, se assistiu ao crescimento da esperança média de vida, à diminuição da mortalidade por doença aguda, e ao aumento do peso da doença crónica.
Mas, o facto de se passar a viver mais tempo não implicou que se passasse a viver melhor. As doenças crónicas não curam, na maior parte das vezes, e prolongam-se por tempo indefinido. Assume assim importância a reabilitação e a medicina paliativa.
Os cuidados paliativos são cuidados totais, ativos, oferecidos aos doentes e famílias cuja doença não responde aos tratamentos curativos. Ao contrário do que, muitas vezes, é assumido pela sociedade, estes cuidados não se destinam exclusivamente aos doentes terminais, nem representam um “rótulo” de fim de linha. Pelo contrário, a Medicina Paliativa pretende reforçar a qualidade de cuidados, preenchendo de vida o percurso que se impõe às pessoas com doença, onde a cura não é o principal foco.
Preconizam uma abordagem interdisciplinar e centrada no doente, família e comunidade, afirmando a vida, mas encarando a morte como um acontecimento natural. Os Cuidados Paliativos assentam na abordagem holística, no apoio emocional e comunicação eficaz e terapêutica, no apoio à família, no trabalho de equipa e no controlo dos sintomas. Estes cuidados têm um impacto positivo na qualidade de vida dos doentes e suas famílias, na equipa e nos outros profissionais de saúde, contribuindo para um processo de luto mais estruturado.
A prestação de Cuidados Paliativos, de forma geral, pode ser dividida em 3 níveis:
Reabilitativa | Meses / Anos | Mantida | Restaurar autonomia; controlo sintomático | Possibilidade de tratamentos agressivos |
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Pré-terminal | Semanas / Meses | Limitada | Qualidade de vida possível; controlo sintomático | Apoio social |
Terminal | Dias / Semanas | Acamado, a maior parte do tempo | Máximo conforto | Expectativas realistas; reduzir impacto da doença |
Final | Horas / Dias | Essencialmente acamado | Cuidados ativos de conforto | Valorizar; aceitar; aliviar |
O controlo dos sintomas constitui a base desta pirâmide, e é um dos principais objetivos para o doente, procurando aliviar a dor e outros sintomas indesejáveis, através de medidas farmacológicas e não farmacológicas.
Numa segunda fase, é importante trabalhar os medos do doente sobre o fim de vida, procurando capacitá-lo para lidar com os seus principais receios, desmistificando ideias porventura erradas e dando resposta às questões que o perturbam. O objetivo, a este nível, é conseguir viver a condição de doente da forma mais tranquila possível.
A equipa de Cuidados Paliativos intervém também ao nível dos afetos, na busca pela reconciliação, que é o processo que permite à pessoa com doença alcançar a harmonia não só consigo mesma e com os outros, mas também com o ambiente, e com a sua espiritualidade. Importa, neste âmbito, perceber quais os seus principais vínculos afetivos, para os manter e reforçar no caminho que tem de percorrer.
Baseando-se numa aliança terapêutica constante, estes cuidados pretendem ainda promover o respeito e auto-estima da pessoa doente, privilegiando a sua vontade e a sua individualidade.
O topo da pirâmide representa a superação e auto-realização. O fim de vida deverá constituir um momento em que o doente se encontra consigo próprio, supera barreiras e obtém pequenas conquistas. São tarefas importantes facilitar a definição de objetivos realistas e alcançáveis, e ajudar a resolver questões importantes sobretudo de natureza familiar para não ficarem pendentes, facilitando, assim, o processo de luto.
Os Cuidados Paliativos são parte integrante do sistema de saúde. São cuidados que previnem o sofrimento e reduzem o risco de luto patológico. Ajudam os doentes com doenças crónicas e incuráveis a viver com qualidade, e tão ativamente quanto possível, durante o tempo que a evolução da doença permitir. A formação dos profissionais de saúde é fundamental.