Autor: Diogo Queiroz Magalhães, Rita de Almeida Rebelo
Última atualização: 2017/09/13
Palavras-chave: Diabetes mellitus, Disfunção erétil, Ereção peniana
ÍndiceResumoA disfunção erétil é um problema comum em homens com Diabetes Mellitus. Tende a ser mais severa e a surgir mais cedo nestes doentes, devido à deterioração que provoca nas funções orgânicas que permitem a ereção. |
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Disfunção erétil define-se como a incapacidade persistente de atingir ou manter uma ereção peniana eficaz para uma relação sexual satisfatória.
É um problema que afeta cerca de 150 milhões de homens em todo o mundo. Pode ter diversas causas, sendo que a sua prevalência aumenta com a idade, principalmente a partir dos 60 anos.
A diabetes mellitus é uma das doenças crónicas mais comuns, e constitui um conhecido fator de risco para a disfunção sexual.
A ereção peniana é um processo complexo, que necessita de vasos sanguíneos, neurónios e níveis hormonais saudáveis. O controlo inadequado da diabetes mellitus provoca uma deterioração gradual do funcionamento dos vasos sanguíneos e das funções nervosas, o que prejudica a ereção.
O risco de um homem com diabetes mellitus desenvolver disfunção erétil é cerca de 3 vezes maior do que num homem não-diabético, e pode surgir até 10-15 anos mais cedo. Além disso, a patologia é aparentemente mais severa nestes doentes, respondendo pior ao tratamento com fármacos, e apresentando um impacto significativo na qualidade de vida.
Não é fácil lidar com esta doença, que pode causar grande frustração e prejudicar a dinâmica do casal. Apesar do sofrimento que provoca, muitos homens mostram-se relutantes em abordar o problema com os profissionais de saúde.
É fundamental que o doente discuta os sintomas que o afligem com o médico assistente, mal estes surjam. Convém salientar que para além da diabetes, existem outras causas de disfunção eréctil que importa despistar, sendo que quanto mais precoce for o diagnóstico, mais cedo se inicia o tratamento e melhor é o prognóstico.
Nos doentes com diabetes, um dos aspetos mais importantes é o controlo adequado da glicemia. Um bom controlo metabólico depende de uma alimentação equilibrada, da prática regular de atividade física e da medicação instituída, e estes são, em primeiro lugar, responsabilidade do próprio doente.
É relativamente comum homens com diabetes apresentarem concomitantemente outros problemas de saúde que podem provocar ou agravar a disfunção erétil, e que devem ser devidamente controlados, como doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, obesidade, hábitos tabágicos, depressão, ansiedade, stress, entre outros.
Alguma da medicação habitualmente usada para controlar outras patologias como a depressão e a hipertensão pode apresentar efeitos negativos no desempenho sexual. Em muitos casos há alternativas terapêuticas que possam ultrapassar ou minorar os efeitos secundários.
É preciso deixar cair o tabu: o profissional de saúde está disponível para ajudar.
Existem vários tratamentos diferentes disponíveis. A decisão pela melhor opção varia consoante cada caso concreto, em função da situação clínica do doente, das suas expectativas e da sua vontade, e da realidade local específica.
Entre os fármacos orais de primeira linha estão os inibidores da PDE-5, que incluem o Avanafil, o Sildenafil, o Tadalafil, e o Vardenafil. Estes atuam aumentando o fluxo sanguíneo dos corpos cavernosos do pénis durante a estimulação sexual. Apresentam taxas de eficácia entre 70-80% e são considerados seguros no doente diabético controlado. Estão contraindicados nos doentes com angina instável, AVC, enfarte recente ou outros problemas cardiovasculares e nos que estão medicados com nitratos. São medicamentos de prescrição médica obrigatória pois obrigam a uma avaliação cuidada do benefício e do risco. E devem ser adquiridos exclusivamente nas farmácias, evitando a sua encomenda através da internet ou outros fornecedores não sujeitos a controlo, devido ao risco de alterações na sua composição.
A publicidade enche os media e a internet com mensagens sobre suplementos alimentares, sob a forma de comprimidos e afins, que promovem o aumento da líbido e a melhoria da performance sexual. Infelizmente, a maioria não apresenta estudos credíveis nem sobre a sua eficácia nem sobre a sua segurança, pelo que devem ser considerados potencialmente perigosos, sobretudo em pessoas com diabetes mellitus, e a sua utilização evitada. Alguns podem inclusivamente conter componentes contraindicados em certos doentes!
Uma vez mais antes de comprar, informe-se com o seu médico assistente.
Os dispositivos de vácuo, que permitem a ereção através da aplicação de pressão negativa, também apresentam boa eficácia, embora as taxas de satisfação diminuam a longo prazo.
Tratamentos de segunda linha incluem a aplicação de alprostadil, seja por via intrauretral ou através de injeções intracavernosas. As taxas de eficácia rondam os 70%, e pode ser uma alternativa eficaz nos doentes onde os inibidores da PDE-5 não funcionam.
Como última linha, em caso de não haver resposta a outros tratamentos ou se o doente procura uma solução mais permanente, existe a opção cirúrgica que inclui a implantação de próteses penianas.
Para além destas opções, é fundamental manter um estilo de vida saudável. As melhorias tornam-se evidentes com algumas alterações ligeiras no quotidiano. Uma alimentação equilibrada, atividade física regular, controlar o excesso de peso, deixar de fumar e saber gerir o stress do dia-a-dia são medidas que contribuem para uma melhor função eréctil e uma vida sexual mais satisfatória para o homem com diabetes.
Um bom controlo metabólico, estilo de vida saudável, tratamento adequado e um regular acompanhamento de saúde são fundamentais para a abordagem eficaz da disfunção erétil no homem com diabetes.