Autor: Joana Carvalho, Carolina Oliveira
Última atualização: 2018/11/25
Palavras-chave: Recém-nascido, morte súbita, medidas preventivas, segurança, acidentes
Resumo
A Síndrome da Morte Súbita do Lactente define-se como a morte súbita e sem explicação de um bebé durante o seu primeiro ano de vida.
É um problema de saúde pública, com grande impacto na vida dos pais e dos profissionais de saúde.
Apesar de não ser possível evitar todos os casos, há algumas medidas que podem ser apontadas como preventivas, e que importa identificar no dia-a-dia para maior segurança.
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Síndrome da Morte Súbita do Lactente
A Síndrome da Morte Súbita do Lactente, como o próprio nome indica, carateriza-se pela morte súbita de uma criança com menos de um ano de idade, sem causa identificada, após investigação adequada. A maioria das situações ocorre no domicílio, durante o sono, sendo também conhecida como “morte no berço”.
O que é que os dados nos dizem?
A prevalência desta entidade situa-se em cerca de 2 casos por cada mil nascimentos. Em Portugal, os dados conhecidos em Portugal apontam números menores, de cerca de 0,1/0.2 por cada mil nascimentos.
Estima-se que 90% dos casos ocorram nos primeiros 6 meses de vida, com um valor máximo entre os dois e os quatro meses. Parece haver um predomínio nos meses de Inverno e ao fim-de-semana. O sexo masculino é mais atingido numa proporção de 3 rapazes para 2 meninas.
Porque é que acontece a Morte Súbita no bebé?
Ainda não se compreende totalmente a causa desta situação. Acredita-se que esta possa ser multifatorial, com vários mecanismos distintos e envolvimento de diversos sistemas orgânicos.
Quais são os fatores de risco?
O Modelo do Triplo Risco defende que esta situação surge, quando se juntam três fatores:
- um recém-nascido vulnerável (nomeadamente do género masculino, prematuro e com exposição durante a gravidez a tabaco e álcool)
- um período critico no seu desenvolvimento
- um fator de risco externo, como posições inadequadas ao deitar ou sobreaquecimento.
Recomendações para evitar a Síndrome da Morte Súbita do Lactente
A Sociedade Portuguesa de Pediatria reuniu algumas recomendações com o objetivo de prevenir a SMSL. Elas são as seguintes:
- Os bebés devem sempre dormir em decúbito dorsal (“de costas”)
- Vários estudos demonstraram que a posição mais segura é “deitado de costas” com diminuição da mortalidade em 20-67%, sem aumento do número de mortes por aspiração de vómito. Existem algumas raras situações clínicas que contraindicam o decúbito dorsal, nomeadamente malformações orofaciais ou graves casos de refluxo gastroesofágico.
- Os bebés devem dormir numa superfície firme
- Até aos 2 anos o bebé deve dormir numa cama de grades, sobre um colchão firme, para que não exista espaço extra entre o colchão e as grades. Além disso, o bebé deve ser deitado com os pés a tocar o fundo da cama, para que não haja risco de escorregar para debaixo dos lençóis.
- A cabeça do bebé deve estar sempre destapada
- A roupa da cama não deve cobrir a cabeça do bebé, assim como almofadas, gorros ou barretes. O bebé não deve estar demasiado tapado, ou seja, a roupa não deve ultrapassar os ombros e os cobertores não devem ser pesados.
- Evite fumar durante e após a gravidez
- A exposição passiva ao fumo de tabaco é um fator de risco importante. A mãe deve evitar fumar durante e após a gravidez, de forma e limitar essa exposição. No ambiente em que o seu filho respira, seja o quarto, carro ou casa, deve-se evitar o fumo de tabaco, independentemente da fonte.
- O sobreaquecimento deve ser evitado
- É necessário ajustar a roupa do bebé, da cama e da temperatura do quarto. A temperatura ideal do quarto deverá rondar os 18-21ºC. Preferir um vestuário confortável e adequado à época do ano. Uma forma rápida de avaliar a temperatura do bebé é através da colocação do dorso da sua mão no tronco ou nuca do bebé.
- O bebé não deve dormir na cama dos pais
- Durante os primeiros 6 meses de vida, o bebé dever dormir numa cama adequada ao lado da cama dos pais, para facilitar a amamentação e o contacto. Isto não significa que deva dormir na cama dos pais. Esta situação aumenta o risco de Síndrome da Morte Súbita do Lactente e também o risco de asfixia, principalmente se os pais estiverem cansados, ingeriram bebidas alcoólicas ou medicamentos.
- Quando o bebé está acordado pode estar noutras posições
- Não existe contraindicação de outras posições, como “barriga para baixo”, “de lado”, quando o bebé está acordado. Aliás, a posição do bebé deve ser alterada, para fortalecer os músculos do pescoço e costas e contrariar posições preferenciais da cabeça, evitando deformações (designado por plagiocefalia posicional).
- Acredita-se que o uso de chupeta diminua o limiar do sono, permitindo despertares mais fácies, em situações de asfixia. Porém, também pode trazer desvantagens como má oclusão dentária e maior incidência de otite média aguda. Assim, pode oferecer uma chupeta ao bebé para dormir, mas se ele a rejeitar não é necessário insistir. A chupeta não deve ser oferecida nas primeiras semanas de vida, pois pode prejudicar a adaptação à mama.
Apoiar no Luto
A morte de uma criança é uma tragédia para a família, independentemente da sua idade e das circunstâncias em que ocorreu. Embora existam medidas preventivas, que os pais podem pôr em prática, a morte súbita do lactente ainda é uma entidade pouco conhecida. E quando acontece é fundamental perceber que não existe “culpa”, nem “culpado”. O apoio psicológico, a ajuda dos familiares e amigos, e os grupos de autoajuda são auxiliares possíveis para ultrapassar a dor e o sofrimento de ver partir um filho, e para ajudar a fazer o luto. Muitos hospitais e centros de saúde estão preparados para apoiar nesta fase.
Além disso, é essencial que os pais não fiquem excessivamente preocupados com essa possibilidade. Todas as medidas de segurança podem ser importantes, mas acima de tudo, é fundamental a presença e carinhos dos pais nos cuidados ao bebé.
Conclusão
A Síndrome da Morte Súbita do Lactente é uma situação preocupante com impacto na vida dos pais e dos seus envolventes. É essencial informar sobre o assunto e aplicar na prática as medidas preventivas.
Referências recomendadas