Autor: Magui Neto, Beatriz Soares
Última atualização: 2016/05/13
Palavras-chave: Contraceção, Fertilidade, Sexualidade, Saúde Reprodutiva, Fármacos para a fertilidade feminina
Resumo
Apesar de a pílula ser o método contracetivo mais utilizado pelas mulheres, esta não se ajusta às necessidades individuais de todas as pessoas.
Existem métodos alternativos, alguns com hormonas e outros não, que frequentemente são pouco conhecidos.
Neste artigo serão descritas as alternativas não hormonais à pílula, com o objetivo de esclarecer a população geral sobre a sua forma de utilização, vantagens e desvantagens.
Alternativas Não Hormonais à Pílula
Na hora de escolher o melhor método para prevenir uma gravidez, existem inúmeras alternativas à pílula, que não contêm hormonas. Deve ser ponderado um método diferente da pílula, não hormonal, quando existe:
- Contraindicação ao uso de contraceptivos hormonais;
- Efeitos secundários hormonais não tolerados;
- Dificuldades em engolir, vómitos ou antecedentes de cirurgia bariátrica;
- Doença Intestinal Inflamatória ou diarreia crónica;
- Toma habitual de medicação que interfere com a pílula;
- Preferência da mulher.
Métodos de Barreira
1. Preservativo Masculino
Eficácia |
- Preservativo Masculino: 2% gravidez/ano.
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Como usar |
- Deve ser colocado correctamente no pénis/vagina antes da relação sexual
- É de utilização única (não é reutilizável)
- Após relação sexual deve-se garantir que não ocorreu ruptura ou deslocação
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Vantagens em relação à pílula |
- Único método contracetivo que previne Infeções Sexualmente Transmissíveis
- Efeitos apenas locais
- No caso do preservativo masculino pode prevenir a ejaculação precoce
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Desvantagens em relação à pílula combinada |
- Alergia ao material ou lubrificante
- Risco de ruptura ou deslocação durante a relação sexual
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Nome Comercial |
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Nota |
- O preservativo feminino é uma versão para senhoras do preservativo, funcionando de forma idêntica à versão masculina.
- Em Portugal, apesar de aprovado para comercialização, não está disponível nas farmácias, parafarmácias ou supermercados.
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2. Espermicidas
Eficácia |
- Baixa quando usado isoladamente
- 18% gravidez/ano.
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Como usar |
- Apresenta-se sob a forma de creme, espuma, esponja, gel, membrana, cones ou comprimidos vaginais, sendo o agente mais frequentemente utilizado o nonoxinol-9.
- Deve ser introduzido profundamente na vagina antes de cada relação sexual
- Nas primeiras 6 horas após a relação sexual deve-se evitar duche vaginal
- Recomenda-se a associação a outros métodos contraceptivos
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Vantagens em relação à pílula |
- Efeitos apenas locais
- Fácil aplicação
- Pode aumentar a lubrificação vaginal
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Desvantagens em relação à pílula combinada |
- Baixa eficácia
- Alergia ou irritação genital
- Pode interferir na relação sexual
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Nome Comercial |
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Nota |
- Muitas marcas de preservativos associam os espermicidas ao látex na sua composição
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Dispositivo Intra-Uterino de Cobre
Local de Aplicação |
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Duração |
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Eficácia |
- Alta.
- No 1º ano de utilização, a probabilidade de gravidez em condições ideias é de 0,6% e em condições habituais de 0,8%.
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Colocação |
- Colocado no útero, pelo médico, no consultório, sem necessidade de anestesia.
- É um procedimento simples que envolve poucos riscos quando bem feito.
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Vantagens em relação à pílula |
- Longa duração, não exigindo toma diária
- Sem efeitos sistémicos
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Desvantagens em relação à pílula |
- Desconforto e pequena hemorragia durante a inserção e remoção.
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Nome Comercial |
- Gine-T ®, Multiload ®, Nova-T ®, Mona-Lisa ®, Cu375 ®, entre outras marcas.
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Existem alguns Mitos à volta dos dispositivos intra-uterinos que não correspondem à verdade:
- Mulheres que nunca tiveram filhos não podem usar – FALSO – As mulheres que nunca engravidaram podem recorrer a este método com a mesma eficácia
- Aumenta risco de gravidez ectópica (fora do útero) – FALSO – não está demonstrado um maior número de gravidezes ectópicas nas mulheres com DIU
- Aumenta risco de infertilidade – FALSO – Apesar de poder haver algum atraso no retorno da fertilidade normal, ao fim de algum tempo, não há diferenças justificáveis pelo DIU
- Aumenta risco de Doença Inflamatória Pélvica – PARCIALMENTE FALSO - Há uma pequeno aumento do risco nos primeiros dias (até 1 mês) que depois desaparece.
Esterilização
A esterilização, feminina ou masculina, é um método cirúrgico que tem como finalidade evitar definitivamente a concepção.
São métodos invasivos (cirurgia), o que acarreta sempre algum risco.
Ao contrário do que se pensa podem não ser 100% eficazes.
Está indicada quando é opção da mulher, do homem ou do casal não voltar a ter filhos ou quando existe contraindicação de ordem médica para uma gravidez/maternidade.
É importante ter consciência de que a contracepção é da responsabilidade tanto do homem como da mulher, sendo indispensável haver uma decisão esclarecida, uma vez que a taxa de arrependimento é elevada, principalmente no caso de:
- Mulheres jovens (menos de 30 anos);
- Mulheres que nunca tiveram filhos (Nulíparas);
- Casais com história de morte de um filho;
- Casais com problemas conjugais (parceiro não apoia a decisão);
- Quando há mudança de companheiro;
- Quando o procedimento é realizado durante ou no pós-parto imediato.
Assim, de acordo com a legislação portuguesa (lei 3/84 – Artº10º) a esterilização só pode ser praticada a maiores de 25 anos, mediante declaração escrita e devidamente assinada.
Em relação à pílula, este método tem a vantagem de ser definitivo, não exigindo qualquer precaução em caso de esquecimento, diarreia ou vómitos e não apresentar efeitos sistémicos das hormonas ou interações medicamentosas.
Vasectomia (Homens)
Eficácia |
- Alta
- Probabilidade de 0.15% gravidez /ano
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Procedimento |
- Procedimento cirúrgico rápido que exige apenas anestesia local, realizada em regime ambulatório.
- É feita a laqueação dos canais deferentes, que ligam os testículos (local onde são produzidos os espermatozóides) à uretra.
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Vantagens em relação à pílula |
- Contracepção segura, eficaz e definitiva (quando bem realizada);
- Não provoca disfunção sexual e não afecta o desejo sexual.
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Desvantagens em relação à pílula |
- Não protege contra doenças sexualmente transmissíveis;
- Necessidade de outro tipo de contracepção nas primeiras 20 ejaculações ou nos primeiros 3 meses após o procedimento;
- Exige a realização espermograma;
- Embora raras, existe a possibilidade de ocorrência de complicações cirúrgicas
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Laqueação Tubária (Mulheres)
Eficácia |
- Alta - depende, em parte, da técnica de laqueação das trompas realizada.
- Probabilidade de 0.5% gravidez/ano.
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Procedimento |
- Exige intervenção cirúrgica, em bloco operatório, sob anestesia;
- Realizada em regime de ambulatório, não exigindo internamento prolongado;
- Pode ser realizada em qualquer momento, desde que não haja contraindicações, inclusive no momento da cesariana ou outra cirurgia abdominal
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Vantagens em relação à pílula |
- Contracepção segura, eficaz e definitiva (quando bem realizada);
- Não interfere na amamentação;
- Não interfere com a libido;
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Desvantagens em relação à pílula |
- Exige intervenção cirúrgica
- Não protege contra Infeções Sexualmente Transmissíveis;
- Embora baixo, existe sempre o risco de complicações cirúrgicas e anestésicas;
- Maior risco de gravidez ectópica (fora do útero), no caso de falha do método.
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Oclusão Tubar (Mulheres)
Eficácia |
- Alta - depende, em parte, da técnica de laqueação das trompas realizada.
- Probabilidade de 0.5 a 1.8% gravidez/ano.
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Procedimento |
- Sem necessidade de intervenção cirúrgica ou anestesia geral
- Essure®
- Introdução de um micro-implante flexível em cada trompa, através do útero
- Este dispositivo promove uma reacção de corpo estranho e uma resposta inflamatória local, ocorrendo oclusão das trompas, irreversível, em 3 meses.
- Adiana®
- Utiliza um cateter com radiofrequência que provoca uma destruição superficial e oclusão da entrada da trompa
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Vantagens em relação à pílula |
- Contraceção segura, eficaz e definitiva (quando bem realizada);
- Não interfere na amamentação;
- Não interfere com a libido;
- Procedimento rápido e com rápida recuperação.
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Desvantagens em relação à pílula |
- Não pode ser realizada em situações de laqueação de trompas prévia, parto < 6 semanas, doença inflamatória pélvica activa ou recente, hipersensibilidade ao níquel (Essure®), tratamento com imunossupressores (incluindo corticóides) e alergia a meios de contraste;
- Não protege contra Infeções Sexualmente Transmissíveis;
- Embora baixo, existe sempre o risco de complicações relacionadas com a intervenção;
- Necessidade de outro método contracepção até confirmação da correcta colocação dos micro-implantes (Essure®) (3 meses após procedimento) ou realização de histerosalpingografia (Adiana®);
- Custo elevado.
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Nome Comercial |
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Conclusão
Não existe um método contraceptivo perfeito e o casal deve ser capaz de fazer uma escolha esclarecida, adaptada às suas expectativas e sexualidade, tendo em conta as vantagens e desvantagens de cada opção:
Referências recomendadas