A Endometriose – O que é? Como tratar?

Autor: Sara Matos

Última atualização: 2016/11/30

Palavras-chave: Endometriose; Dor pélvica; Endometrioma; Dispareunia



Resumo


A endometriose é uma patologia ginecológica comum e benigna que se carateriza pela presença de tecido uterino noutros locais do corpo, e que se pode associar a manifestações incapacitantes com grande impacto na qualidade de vida.
É importante conhecer esta entidade, assim como os métodos de diagnóstico mais adequados e quais os tratamentos disponíveis. A escolha da melhor terapêutica depende dos sintomas, extensão da doença, idade, efeitos laterais e desejo reprodutivo.




A Endometriose


A endometriose é uma doença ginecológica comum, crónica e benigna. Carateriza-se pela presença de tecido endometrial (camada interna do útero) em locais extrauterinos – principalmente na região pélvica. Pode associar-se a manifestações incapacitantes e variadas mas pode também ocorrer sem quaisquer sintomas.

Epidemiologia


A endometriose ocorre geralmente em mulheres em idade fértil, pois associa-se aos esteróides produzidos pelo ovário. É rara antes da primeira menstruação e após a menopausa (sem terapêutica hormonal de substituição). A sua prevalência real é desconhecida.

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Há um menor risco de desenvolver esta doença se:

  • Primeira menstruação ocorreu após os 14 anos;
  • A mulher teve vários filhos;
  • Amamentou por um longo período.


Há um maior risco no caso de:

  • Primeira menstruação precoce;
  • Duração longa do período menstrual;
  • Mulher sem filhos;
  • Menopausa tardia;
  • Anomalias müllerianas (malformações congénitas dos órgãos sexuais).



Causas e Modos de Apresentação


A sua verdadeira causa é desconhecida, existindo atualmente várias teorias, que envolvem alterações dos mecanismos de defesa do organismo e fatores genéticos associados.

Há três apresentações clínicas:

  • Peritoneal (tecido endometrial no peritoneu pélvico e ovários);
  • Endometriomas (quistos dos ovários cobertos com mucosa endometrióide);
  • Nódulos endometrióticos retovaginais.

No entanto, qualquer local do organismo pode ser afetado, e a maioria das doentes é afetada em múltiplas áreas.

Manifestações Clínicas


A intensidade dos sinais e sintomas não se associa necessariamente à gravidade da doença. Incluem:

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  • Dor pélvica: tipo cólica. Ocorre por hemorragia das lesões, produção de substâncias inflamatórias ou disfunção neurológica;
  • Dor durante as relações sexuais;
  • Sintomas urinários e intestinais: urinar muitas vezes, sensação de bexiga cheia, retenção urinária, sangue na urina, cólicas, diarreia ou obstipação;
  • Infertilidade: pode ser a queixa inicial. Deve-se à distorção do útero, endometriomas ou produção de moléculas que interferem com a fertilidade;
  • Dor torácica: na endometriose torácica (rara).


Pode também ser apenas um achado incidental durante a realização de uma ecografia pélvica ou cirurgia.

Diagnóstico


A ecografia pélvica é o exame de primeira linha, permitindo observar as lesões em alguns casos. A ressonância magnética poderá ter utilidade se houver evidência de endometriose profundamente infiltrante. O diagnóstico definitivo é feito através de biópsia, mas a visualização de lesões durante uma cirurgia (aberta ou por via laparoscópica) pode ser suficiente.

Tratamento


Mesmo sem a confirmação do diagnóstico, analgésicos e os contracetivos orais podem ajudar a melhorar os sintomas.
A escolha da terapêutica depende da sintomatologia, extensão da doença, idade, desejo reprodutivo e efeitos laterais:

  • Dor ligeira/moderada: anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) com contracetivo (preferencialmente combinado, por via injetável, oral, ou dispositivo intrauterino – DIU) até à gravidez ou menopausa. A toma ininterrupta da pílula provoca maior alívio da dor. Se desejar engravidar, usar o AINE isoladamente (exceto inibidores da COX-2);
  • Dor intensa/resistente/recorrente: período de teste com fármacos mais específicos, denominados agonistas da hormona GnRH associados a terapêutica hormonal (add-back), ou laparoscopia;
  • Dor resistente ao agonista GnRH: inibidores da aromatase (como o anastrozole);
  • Dor resistente às outras terapêuticas/endometriomas sintomáticos ou em crescimento: laparoscopia (cirurgia) para confirmação diagnóstica e remoção das lesões, seguida de contracetivo para evitar recorrência;
  • Infertilidade: atitude expectante, remoção cirúrgica das lesões e/ou reprodução medicamente assistida;
  • Endometriose profunda: terapêutica de supressão hormonal ou cirurgia;
  • Atingimento de órgãos extrapélvicos: análogos da GnRH.


Os fármacos não melhoram a fertilidade, não diminuem o tamanho dos endometriomas (ao contrário da cirurgia) e não tratam complicações de endometriose profunda.
A cirurgia está associada a complicações (como infeção, lesão de nervos ou órgãos e formação de aderências) e pode haver recorrência das lesões, mas pode proporcionar uma melhoria ainda que modesta na fertilidade. Pode ser conservadora (preservando-se o útero e o máximo de ovário possível) ou definitiva, e realizada por via laparoscópica (com risco de recorrência de 40% ao fim de 10 anos) ou por laparotomia (“barriga aberta”).
Suplementos, terapêuticas alternativas e ablação nervosa não estão indicados pois não há evidência da sua eficácia nesta patologia.

Conclusão


A endometriose é uma situação benigna, mas pode ter manifestações incapacitantes. Existem várias terapêuticas disponíveis, farmacológicas e cirúrgicas, para alívio sintomático, melhoria da fertilidade, e consequente benefício para a qualidade de vida.

Referências recomendadas



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